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21 maio 2013

A MORTE DE JOAQUIM TODOS NÓS





Joaquim trabalhava a noite e tentava colocar comida na mesa da família. A filha ganhava um dinheiro com as costuras, mas um dia ela começou a namorar um rapaz e se mudou da casa de Joaquim, levando a maquina de costura e o neto. Somente muito de vez em quando é que ela fazia uma visita ao pai.

O filho de Joaquim se formou e conseguiu um trabalho fora de sua área, numa cidade vizinha. Ele se casou e também teve um filho e uma filha. Joaquim largou o serviço noturno e passou a viver somente da aposentadoria, porque não conseguia mais trabalhar devido a uma dor nas pernas.

Mas com o passar do tempo Joaquim não conseguia mais comprar feijão, porque o feijão aumentou muito o preço. E assim foi com o gás, o arroz, a luz, a água e tudo o mais. E Joaquim não entendia porque o governo aumentava todas as coisas e não aumentava seu salário. E ele teve que tentar trabalhar de novo porque senão perderia a casa por causa das dividas. Mas logo descobriu que ninguém lhe dava serviço.

Procurou muito e conseguiu achar um emprego num posto de gasolina, de faxineiro. Mas logo no primeiro dia teve um ataque de hérnia e não pôde trabalhar mais. Foi demitido e perdeu a casa e as coisas todas do casamento. Foi para um asilo na periferia da cidade, mas não pôde levar a velha cristaleira nem o jogo de cama do quarto da filha, porque não havia espaço no asilo. Ele pediu ajuda a um amigo, que sempre se reunia com outras pessoas perante um bode, mas esse fingiu que não o conhecia.

Joaquim nunca mais viu o filho, a filha ou os netos. Tinha na cabeceira da cama uma foto amarela em branco e preto da mulher e uma outra dos filhos e netos. E todos os dias Joaquim andava pelos jardins do asilo e via os garotos brincarem na rua de terra. E de noite ele se sentava num banco no fundo da casa e chorava.

Um dia de outono, ao entardecer, Joaquim foi achado caído num canto do asilo, com a fotografia da esposa espremida entre as mãos, morto.

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Este é um blog literário. Todo conteúdo de crônicas e diários são meramente fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, acontecimentos ou fatos terá sido mera coincidência.